sexta-feira, 21 de maio de 2010

Maria e Freddy conhecem-se



exercício em dupla: conjugar numa mesma cena duas personagens criadas individualmente

por Susana Martins e António Bettencourt


Freddy circula na sua Harley, atraindo a atenção dos transeuntes, devido à trovoada sonora produzida pelo motor americano de 1200cc.

Um corte temporário numa estrada principal fá-lo tomar um desvio por uma zona residencial. Freddy desce a rua, observando os velhos a jogar dominó à porta do café. Abranda, ri-se e diz-lhes: “Born to be wild”!.
Os velhos olham para ele espantados e nada respondem.

Quando olha para a frente vê uma galinha atravessada no meio da estrada, entretida a picar beatas do chão. O riso transforma-se em pânico momentâneo, acompanhado por uma travagem brusca e perigosa.


Freddy pára a centímetros da galinha, que se assusta e lhe salta para cima, agarrando-se ao seu capacete preto, estilo penico.

Freddy: Foda-se! Qu'é esta merda?

Maria: Gina! Gina! Anda cá!

Freddy (espantado): Este bicho é seu?

Maria: É sim. Peço desculpa, fugiu-me. É uma marota!

Freddy: Mas você é maluca? As galinhas são para comer, não são para andar na rua!

Maria: Caro amigo, cada um dá o uso que quer às galinhas! Se você as come é lá consigo! Eu não o vou criticar por isso!
Gina, anda cá!

(a galinha salta de cima da cabeça do Freddy para os braços da Maria)
(Freddy retira o capacete)

Freddy: Já viu o que é que o raio da galinha me fez ao capacete? Está todo cagado!

Maria (rindo): É adubo meu amigo! 100% natural! Não tem plantas em casa? Aproveite que vai ver que elas crescem mais bonitas!

Freddy: Deve achar que me cresce uma árvore na cabeça! A senhora precisa claramente de ajuda.

Maria: Tem toda a razão, e é você que me vai ajudar. Ora pegue lá aí na minha Gina.
(Maria tenta entregar a galinha a Freddy, que a afasta enojado)

Freddy: Tire-me daqui o animal! Ainda apanho alguma doença!

Maria: Oh amigo, era só para eu voltar a prender o cordel na menina, para ela não fugir.

(Freddy pega na galinha com a ponta dos dedos, com um ar visivelmente nauseado)

Freddy: Ok, o que for preciso para esse bicho ficar longe de mim...!

(Maria reata cuidadosamente o cordel ao pescoço da galinha)

Maria (ironizando): Muito obrigada cavalheiro.

Freddy: Por acaso até me dava jeito uma galinha.

Maria: A sério? Para quê?

Freddy: Já ouviu falar dos “Cordeiros do Pecado”?

Maria: Hum... penso que não.

Freddy: É uma comunidade onde se juntam todos aqueles que a sociedade renegou. Defendemos causas maiores, que transcendem as banalidades do homem comum.

(Freddy entrega um cartão a Maria)

Maria (intrigada): Hum... parece ser interessante. Mas precisa da galinha para quê?

Freddy: Vamos realizar uma cerimónia espiritual para purificar almas pecadoras que a sociedade colocou à margem devido aos seus ideais políticos e religiosos.

Maria: E a minha galinha onde é que entra nessa história??

Freddy (sorrindo): Não se preocupe com isso, apareça lá e traga a galinha!

(Freddy acelera, faz barulho e desaparece numa nuvem de fumo)

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