segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Doença.Crónica: "O(s) ano(s) zero(s)"



Todos nós já passámos por vários anos zero: quando nascemos, perdemos a virgindade, recebemos o nosso primeiro ordenado, casamos, arranjamos um amante, temos filhos, divorciamo-nos ou somos cremados (não necessariamente por esta lógica). Ano zero aponta para um recomeço, a “tábua rasa” (abençoado Viagra), para aqueles momentos que, de alguma forma, nos marcaram, em que a nossa vida, nalgum ponto específico, começa a contar somente a partir daí. Por exemplo, hoje é o meu ano zero como cronista. Doravante não sei se será possível somar algum algarismo à sequência já iniciada, mas, como se costuma dizer, “o futuro a Deus pertence” e, como não tenho vocação para mexer no que é dos outros, permaneço na dúvida.
Quantos de nós, caros leitores, já suspirámos: “Ai, se eu pudesse voltar atrás...”. Mas o problema é esse: o tempo dá, de facto, muitas voltas, mas não as suficientes para inverter a marcha. Todavia, é possível fazer batota e simular um ano zero. Por exemplo, existem mulheres que pagam alguns euros para voltar a ter um (saudoso) hímen incólume. Um engenho idêntico ao utilizado quando se eliminam os quilómetros que um carro já percorreu. Pretende-se apagar o que já se viveu, para não contaminar o que se vive e não comprometer o que se viverá. Confesso: “zerar” alguma coisa dá um certo jeito.
De facto, o zero (aka nicles, batatóides) é um número interessante e que me tem perseguido. Quantas vezes ganhei o Euromilhões? Zero. Quantas vezes me cruzei com o George Clooney? Zero (Madame Tussauds não conta). Também nunca plantei uma árvore, escrevi um livro, nem pari. Zero, zero, zero. Mas posso mudar o rumo à minha vida, ou seja, passar a jogar no Euromilhões, ir viver para Itália, enterrar um caroço, escrevinhar umas letras e deixar de tomar a pílula. Mas com uma condição: saber o que sei hoje, porque isto de começar da estaca zero a zeros não tem muita piada. Doença? Crónica.

Cristina Santos

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