segunda-feira, 2 de novembro de 2009

O ano zero de António Bettencourt




Ano zero foi uma expressão que teve de me ser explicada da primeira vez que a ouvi. Ano zero? O que é isso?
Zero, literalmente, significa nada. Significa a ausência de conteúdo. É o vazio. Ou assim pensava eu.
Parece que antes de chegar ao um, algo pode existir e subsistir como zero. Não é nada, mas é algo.
Mas afinal é o quê? Quem é que criou o ano zero? Quem é que olhou para determinada situação, facto, argumento, e a classificou como “zero”, mas num sentido positivo?
A aplicação prática de “ano zero” corresponde a uma preparação para o um. Sinceramente, penso que o ano zero foi criado por algum militar sádico do nosso exército, que como bom português, sabe que antes de se atingir o um, tem que se passar pelo zero.
“Recrutas, 30 flexões! Toca a empurrar o planeta, seus animais! Tu, faz a contagem!”
E o recruta cai de braços no chão, prontamente seguido pelos seus camaradas. E começa a contar “1,2,3,4,5...”. O sargento deixa-os chegar aos 30 e, olhando para um pelotão de cabeças rapadas ofegantes, dirige-se ao soldado raso que fez a contagem: “Soldado Rodrigues! Então o zero não é número? Não o ouvi a contar o zero! Mais trinta, e podem agradecê-las ao camarada Rodrigues!”
E a partir daí, o dito pelotão começa todas as contagens com o zero, seguido do um, dois, três, e afins.
Ou seja, o zero, como número unitário, parece ter alguma utilidade.
Parece que é uma preparação para algo... é algo por onde uma pessoa tem que passar quando não está preparada ou se quer preparar melhor para o um. E porque não começar logo pelo um? Será “miaúfa”? Agora temos medo do um?
“Ah tenho medo do um, deixa-me começar pelo zero que é mais fácil”. Mas isto faz sentido?
Parece que sim. Mas o ano zero é fruto da evolução.
Por exemplo, há 60 anos atrás, os pilotos da aviação militar inglesa recebiam umas noções de aeronáutica, um tanto de treino físico, e eram enfiados num spitfire desprovido de qualquer tipo de controle electrónico em que sabiam que a manche era para conduzir, os pedais eram para os flaps, e o botão de disparo era para abater aviões alemães.
Hoje em dia, só pega num avião quem já fez milhares de horas de simulador.
Que se passou connosco? Estamos com medo? Temos que começar pelo zero, porque o um é assustador?
Será que a raça humana está com um ataque de mariquice?

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