quarta-feira, 18 de novembro de 2009

FÚRIA POLITICAMENTE CORRECTA NA ESTRADA

óptimo sketch de António Bettencourt

Cenário:

Dois carros seguem na estrada. Um trava de repente e o outro bate-lhe por trás.
Saem do carro dois senhores muito bem vestidos, dois autênticos lordes, de casaca, chapéu alto e bigode penteado.


Diálogo:

Lorde 1: Caro Senhor! A presente situação leva-me a sugerir que vossa excelência beneficiaria bastante de uma consulta ao seu oftalmologista! Parece que vocemessê não reparou que eu realizei o acto de imobilizar o meu veículo, e só fez o mesmo ao seu dito cujo quando a traseira do meu carro já se encontrava a receber um carinhoso “chega para lá” do seu pára-choques dianteiro!

Lorde 2: Permita-me discordar de si caro amigo! Vossa excelência imobilizou o seu veículo de um modo extremamente brusco e repentino, e para agravar a situação, as obrigatoriamente funcionais luzes de “stop” não foram accionadas como seria de esperar, levando a crer que o seu automóvel eventualmente padecerá de qualquer tipo de problema no sistema eléctrico!

Lorde 1: Ah!! Vossa excelência estará porventura a sugerir que não é você o óbvio e único indivíduo aqui presente culpabilizável nesta contenda?

Lorde 2: O amigo é perspicaz!! Parece que existe algo debaixo desse poeirento chapéu para além de excremento de pássaro!!

Lorde 1: Mas vossa excelência atreve-se a sugerir, ainda que em modo figurativo, que é o excremento aviário que habita a minha consciência??

Lorde 2: Exacto! Vejo que a perspicácia lhe corre nos genes!

Lorde 1: Pois que nesse caso vou ter que cordialmente convidá-lo a realizar um movimento de sucção bocal no meu membro reprodutor!

Lorde 2: Caro senhor!! Assim sendo ver-me-ei obrigado a sugerir a vossa excelência que se desloque para o membro reprodutor que o fecunde!

Lorde 1: Como se atreve?? Deixe-me desde já informá-lo que as suas afirmações obscenas fazem-me duvidar publicamente da sua masculinidade, e até mesmo acusá-lo de ter o hábito de, com gosto, defecar no sentido inverso ao que será natural ao corpo humano!

Lorde 1: O amigo fala como alguém que está fortemente interessado em ver a sua própria dentição diminuída em, pelo menos, 50% das suas unidades!

Lorde 2: Ah mas o caro senhor, na sua diminuída inteligência, está a sugerir que conseguiria completar com sucesso a tarefa de se superiorizar à minha pessoa recorrendo a uma cobarde agressão física como a que descreve? Desafio-o a cumprir com as ridículas palavras que acabou de proferir!

Lorde 1: Vossa Excelência desafia-me? Mas duvida que eu leve por avante os actos a que me predisponho? Sendo assim não me deixa qualquer alternativa senão a de duvidar seriamente da legalidade e moralidade da profissão da senhora sua mãe!!

Lorde 2: A senhora minha mãe não é para aqui chamada caro amigo! Talvez queira antes conversar sobre a senhora sua esposa, que vocemessê terá conhecido num daqueles estabelecimentos de alterne e de frequência duvidosa que o senhor seu pai o habituou a frequentar desde a tenra idade!

Surge em cena um camionista a buzinar que, da janela do seu camião, começa a gritar com os dois intervenientes:

Camionista: Pá ó car(...)o! Mas vocês vão andar com essa me(...)a ou não? Vou ter que vos passar por cima f(...)... –se!?

Os lordes entreolham-se perplexos.

Lorde 1: Bom, caro senhor, parece que, levando em conta a reduzida quantidade de estragos, seria preferível seguirmos o nosso caminho de modo a permitirmos a continuidade da circulação rodoviária na via pública.

Lorde 2: Vejo-me impelido a concordar com vossa excelência. Felicidades para si e para os seus, e aconselho-lhe a máxima cautela na estrada: anda por aí muito condutor mal-formado!

Camionista: (a buzinar) Car(…)o! Andem lá com isso! Estou atrasado para a depilação fo(...)-se!

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